quinta-feira, 15 de maio de 2008

Carta a meus contemporâneos

Meus contemporâneos
morrerão sem minha poesia
e não lhes darei pesames
nem estrofe alguma,
morrerão engasgados
com minha angustia,
mas não conhecerão o motivo
nem a poesia
com a qual tento reinventar
a vida.

Meus contemporâneos
sentirão minha ausência
enquanto eu existir
e consumada minha existência
minha poesia será inutil
e escorrerá pelos ralos
e bueiros
escapará por entre os dedos
dos homens
e das mulheres
e ninguém saberá os meus porques.

Minha poesia
não interessa aos meus contemporâneos
Faço-a para um sonho
um anjo
e uma mulher
e para ninguém mais
e ela não quer ter
leitores e nem livros
muito menos marca-páginas
em seus dias de glória.

Meus contemporâneos
são todos puritanos
enganados pela falsa poesia
dos meus olhos
e para eles a poesia
do meu coração é muda
cega
surda e insensata
…como todos os meus contemporâneos.

Não quero ver meu verso
nas páginas dos livros
nem na voz dos namorados,
meu verso é pus
que tenta cicatrizar
minha existência enferma
e meus contemporaneos
só querem minha causa mortis
e ela não é poesia
e não está em mim
nem nos meus versos.

Não quero meu verso
na boca dos poetas
nem nas chamas da fogueira.
Meu verso é raiz
que me planta ao chão
e meus contemporaneos
estão sedentos,
mas meu verso só matará
a minha sede
e meus contemporaneos
nunca alcansaram o poço
de minha vida
por que não existem caminhos
e nem atalhos
e existem guardas por todos os lados
e cães que ladram
incansáveis…
Ladram versos meus
e meus contemporâneos
não entendem
e riem da agonia
desses cães
e querem sacrifica-los
-Estão loucos estes cães!
Pois assim é minha poesia
obscura e louca
para aqueles que não sabem o que se passa
dentro de mim

Minha poesia
é para um sonho,
um anjo e
uma mulher

E não para meus contemporâneos

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