sexta-feira, 16 de maio de 2008

Carta

para Elke,

sabe,
lá fora eu já posso ver,
se estivesse aqui,
tenho certeza
verias também,
um sol que
por medo da noite.
grande algoz dos sonhadores….

poderia ser
o entardecer de um
dia qualquer,
talvez seja mesmo,
mas nao para mim,
talvez nao pra você…
talvez alguma força invisivel
estranha e inexplicavel
nos una num só neste momento…
talvez….
talvez….
mas a imprecisão da vida,
dos dias e, sobretudo
(neste momento)
de uma imensidao
de escureceres casuais
e, aparentemente desimportantes,
haja mesmo algo
de diferente.

a luz se põe
e certas canções do passado
certas vozes,
inumeros tons confusos
de tardes de outrora,
de noites velhas,
fazem a tarde,
para mim
um imenso manto de melancolia
doce,
magica
saudosista e poética….

a noite vem
como quem chega ressabiada
depois de alguma travessura
qualquer…

(mas deixemos de devaneios
e prosa piegas….)

escreve-te por que a tarde cai,
imensa vontade de fazer um poema
gigantesca fome
de coisas que me soam
amargas ao paladar….

espero que estejas bem
serena como este entardecer,
desejo que tenhas na alma
o alivio da chuva fina
que, com calma, lava o chão
e ainda deixa tudo
com aquele cheiro bom de vida renovada….

o ar que entra pela janela,
entreaberta(num devaneio so dela)
ou melhor ainda,
repousa no mito de uma espera serena
pelos ultimos raios do dia….

a vida se aventura lá fora
como um passaro recem
liberto de sua gaiola….
se anula e se renova
nesse ar mariado
que entra pela janela
e invade meus pulmões,
me drenando por completo
o vazio fugaz da existencia

cai a tarde lá fora,
é bem verdade,
no entanto,
tantos outros vestigios da queda,
da derrota da luz
se fazem claros;
evidencias de verdades
manchando a pintura
escualida dos dias….

sinto um arrepio
no mais profundo da alma,
medo de ver o desconhecido
além da janela
e dessa tarde que cai.
Por isso escrevo-te estas palavras
oriundas das mais profundas
vacidade de meu ser
que por hora repousa
na sonolencia das coisas
que nao entende
que por hora
ri das coisas obvias
que no fundo nao entende,
que talvez jamais entenda
e que por hora, finalmente,
inconsolavel deixa o pulmão
sugar o nectar
dessa tarde que cai
para além da paisagem
que vê da janela.

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